Espectáculo baseado na obra do multifacetado escritor, jornalista e pensador uruguaio Eduardo Galeano autor de "As Veias Abertas da América Latina", uma voz singular da actual literatura e do pensamento latino-americano, ainda praticamente desconhecido em Portugal onde só algumas (muito poucas) dos seus livros foram publicados, o último em Outubro de 2011 "Os Nascimentos” o primeiro volume da sua importante trilogia "Memória do Fogo”, numa edição Livros de Areia.
Os textos escolhidos para esta peça têm por base as obras “O Livro dos Abraços”, “Memória do Fogo - Os Nascimentos”, “Vagamundo”, “De Pernas Para o Ar – A Escola do Mundo ao Contrário”, “O Teatro do Bem e do Mal”, “Os Espelhos – Uma História Quase Universal” e “Os Filhos dos Dias”, embora se alarguem à sua obra em geral.
Pretende esta encenação dar “consistência teatral” aos variados géneros literários utilizados por Galeano, optando por uma narrativa cénica “aparentemente” sequencial para desvencilhar-se do “fio de Ariane discursivo” que envolvem os mais de vinte textos escolhidos para chegar ao palco.
Privilegiou-se no trabalho dos actores, o compromisso entre jogo dramático e oralidade, confrontando-os/dialogando com outras narrativas em cena (imagem, sons, música) num palco “em branco” e praticamente despojado de adereços e cenários, “inserindo-os” nos muitos universos em que se movem as personagens, reais e ficcionais, destes contos contados e cantados, onde se cruzam as pequenas histórias dos homens e mulheres comuns com a grande história dos povos e das nações, as mais desconhecidas lendas e mitos da criação da humanidade, a narrativa poética e a crua prosa da realidade, os populares chistes ou mesmo palavras de ordem, e os grandes pensamentos, do drama à comédia e à farsa, do silêncio, dos sentimentos, o espanto e o medo, as alegrias do amor e as dores das guerras, a amizade e a infâmia, a palavra dos vencidos contra a ordem e o poder dos vencedores, do mal e do bem… de nós!
Trata-se, pois, de uma espécie de ensaio cénico, uma criação teatral onde mil e uma histórias são interpretadas por uma actriz e dois actores transformados em Sherazade(s) que contam e nos falam de outros mundos, de pessoas e gentes que não têm tido voz e cujas memórias se encontram sequestradas pelos livros da historiografia oficial.
Um teatro em registo dramático-jocoso, de rir e chorar, de reflexão e interrogação, manifesto poético e de intervenção, de ver-e-olhar-o-mundo, numa homenagem à escrita, pensamento e acção de um importante autor universal e que, pela primeira vez, sobe ao palco em Portugal. - José Leitão
Os escritores das Américas fazem parte do espólio teatral do Art´Imagem desde que em l984 a companhia levou pela primeira vez à cena um autor argentino Osvaldo Dragún. De fala castelhano apresentamos ainda os chilenos Pablo Neruda e Luís Sepúlveda e agora o uruguaio Eduardo Galeano. Dos americanos dos Estados Unidos e de língua inglesa subiram ao palco David Mamet, Paul Auster e John Steinbeck.
João das Neves, Arthur de Azevedo e Clarice Lispector são os outros autores americanos do Brasil que constam também do historial das nossas criações.
Para que conste, em Maio de 2012, Portugal, país da Europa sem Ministério da Cultura. - Teatro Art’Imagem