“Benilde ou a Virgem Mãe”, hoje.
Quarenta e sete anos são passados desde a publicação e da primeira representação de “Benilde ou a Virgem Mãe”. Muito tempo, neste tempo em que não damos conta do tempo que passa? “Benilde” passou e já não é deste tempo? E que tempo é o nosso? Tempo de convicção, de verdade, de procura, de solidariedade?
“Benilde” encontrou a sua verdade e quer partilhá-la. É este tempo e este mundo um tempo e mundo de partilha? Benilde encontrou o caminho para um mundo que a redime, onde encontrará a perfeição e será feliz. Encontrámos nós, neste mundo e neste tempo, esse caminho por onde o homem caminhará de encontro à sua plenitude?
Benilde engana-se julgando escutar vozes celestiais, onde outros ouvem uivos e gritos de um louco? Que tempo e que mundo de enganos não tornamos nós em tempo e mundo de verdades?
É ainda este tempo o bem e o mal? Ainda somos formados e espírito e corpo? Existe o transitório e o eterno? Há o dia e a noite? Do homem e do mundo está tudo explicado? Há outros mundos neste mundo?
Benilde pertence a este mundo e porque é humana, também pertence ao outro. Não vivemos nós entre o sonho e a realidade?
“Benilde ou a Virgem Mãe” é teatro de alma, teatro de dentro do homem. Este teatro perturba, questiona, incomoda? Não está na moda? Teatro à escala do homem à medida da sua respiração. Cerimónia colectiva, ritual de comunhão.
É ou não teatro para este tempo? - José Leitão