PALAVRAS PARA VER
Tudo o que pedimos é que oiçam. Habituamo-nos a ouvir as pessoas que amamos, as comunicações ao pais que nos arruínam a vida, as angústias que gritam na nossa cabeça, o ruído que os vizinhos fazem a horas impróprias. Mas no meio da cacofonia que nos tenta vender aquilo de que não precisamos, desabituamo-nos de ouvir os outros, as histórias dos outros, A angústia faz-nos agir, o egoísmo faz-nos comprar. Haverá alguma coisa que nos faça ouvir?
Talvez o teatro que, se não tiver outra redenção, é pelo menos um tempo em que podemos ouvir. Ouvir palavras dos outros e ouvir a forma como os outros ouvem, ouvir como as palavras nos mudam os olhos e nos mudam os gestos.
Estas palavras que aqui são apresentadas - ora impressas, ora encenadas - precisam, merecem ser ouvidas. No meio do ruído, da ironia, da angústia, vale a pena acreditar que as palavras ainda servem para incomodar a realidade.
Este conjunto de 12 textos, são 12 visões do mundo de 12 diferentes pessoas que neles inscreveram memórias, perplexidades, exaltações. Gostaríamos que os ouvissem, pois só ouvindo se pode ver, largar a miopia que nos paralisa, destrinçar os filamentos delicados que nos unem a tudo aquilo que nos rodeia. - Jorge Palinhos