Voz do Poeta Esta é a longa história de um homem iluminado: simples, corajoso, a sua memória é um machado de guerra.
É tempo de abrir o repouso, o sepulcro do claro bandido e rasgar o esquecimento oxidado que agora o enterra.
Talvez o soldado não tivesse encontrado o seu destino, e lamento não ter conversado com ele, e com uma garrafa de vinho ter esperado na História que passasse algum dia o seu grande regimento. Talvez aquele homem perdido no vento tivesse mudado o caminho.
O sangue derramado pôs-lhe nas mãos um raio violento, agora passaram cem anos e já não podemos mudar o seu destino: assim é que comecemos sem ele e sem vinho nesta hora quieta a história do meu compatriota, o honorável bandido Joaquín Murieta.
Fulgor e Morte de Joaquín Murieta,
de Pablo Neruda
Teatro, poema épico, cantata dramática, “oratória insurreccional” – Fulgor e Morte de Joaquín Murieta (1965-67) continua, ainda hoje, a criar embaraços aos fanáticos da catalogação, desarmados pela indisciplinada originalidade desta obra escrita por um dos pais fundadores da literatura latinoamericana do séc. XX. Pablo Neruda recupera a figura histórica do “honorável bandido” J. Murieta, assassinado na Califórnia em Julho de 1853, durante a sangrenta corrida ao ouro, e reconverte-a num anti-herói de proporções míticas, capaz de ombrear simbolicamente com a aura libertária dos guerrilheiros sul-americanos da insurgente década de 1960. Atento à fulguração poética das palavras de Neruda, Roberto Merino, encenador de origem chilena radicado no Porto, assina a criação do espectáculo de abertura do festival Fazer a Festa, naquela que é a primeira co-produção entre a companhia Teatro Art'Imagem e o TNSJ.