A partir de “A Cena do Ódio” de Almada Negreiros, “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer” de Stig Dagerman e devaneio frugal a partir da personagem Pepe Romano de “A Casa da Bernarda Alba” de Federico Garcia Lorca.
A Beleza do Pecado é um espectáculo sobre o fim, em que as três personagens são colocadas em situações limite, fascinadas pelo caminho sem retorno que parece desembocar na solidão, no abandono e, em última instância, no suicídio, na morte.
De “A Casa de Bernarda Alva” de Lorca, fazemos aparecer por artes de magia Pepe Romano, objecto de desejo das filhas de Bernarda, de forma clownesca e trapalhona, rindo-se, inclusive da tragédia que se desenrola à frente dos seus olhos.
De “Cena do Ódio” de Almada, poeta “sensacionalista e Narciso do Egipto” e poema visceral e que foi superiormente interpretado por Mário Viegas, extraímos para a nossa peça a personagem Ódio, que destila por todos os poros aquilo que é, não encontrando razões já para andar por aqui.
“Vai depois pla noite nas sombras / e rouba a toda a gente a Inteligência / e raspa-lhos a cabeça por dentro / co'as tuas unhas e cacos de garrafa, / bem raspado, sem deixar nada, / e vai depois depressa muito depressa / sem que o sol te veja / deitar tudo no mar onde haja tubarões! / Larga tudo e a ti também!”
Do ensaio “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer” do nórdico Stig Dargeman, autor fundamental da literatura contemporânea sueca, que se suicidou em 1954, fomos buscar a explicação exaustiva das razões da partida da nossa última personagem e, paradoxalmente, os motivos que encontra para continuar a viver.
“É este o meu único consolo. Sei que as recaídas no desespero serão profundas e numerosas, mas a lembrança do milagre da libertação leva-me como uma asa a um fim que me inebria: um consolo que seja mais do que apenas isso, e mais vasto que uma filosofia: que seja, enfim, uma razão de viver.”