Doze anos são para um Festival de Teatro um tempo difícil de igualar, sobretudo num país como Portugal e num género tão "complicado" como é o Teatro Cómico de qualidade.
Esta longevidade só é possível pela conjugação de três factores: a vontade da Câmara Municipal da Maia em persistir na disponibilização deste "produto" cultural de excelência, a dedicação e o profissionalismo do Art'Imagem e a permanente adesão do público.
São estes, os três ingredientes fundamentais, para que esta receita final - o Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia - já tenha atingido o patamar da institucionalização, quer em Portugal quer no estrangeiro, e que contra ventos e marés adversas continue a poder estar ao serviço de todos aqueles que cultivam o humor inteligente como um dos principais instrumentos para a sobrevivência, nesta sociedade cada vez mais triste e perdida.
O FITCM não é um festival fácil. Não é fácil quanto à produção, não é fácil quanto ao aplauso do público.
Talvez por não ser fácil, talvez porque exija de todos nós, organizadores e público, uma sensibilidade e uma disponibilidade mental especiais, talvez por isso tudo é que esta nossa "verdadeira festa cómica muito séria", seja aquilo que é: um momento especial de questionamento da vida, em todas as suas facetas, através de uma das mais extraordinárias capacidades da espécie humana: o saber rir para poder crescer em humanidade.
Dito isto...que comece a Festa.
O Presidente da Câmara Municipal da Maia,
António Gonçalves Bragança Fernandes
O Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Maia,
Mário Nuno Alves de Sousa Neves
O Humor não se resigna, desafia
A cidade da Maia está preparada para receber novamente o Festival Internacional de Teatro Cómico. Completando a sua primeira dúzia de edições, comprovado pela qualidade das companhias e espectáculos seleccionados, está pronto para cumprir a sua principal função que consiste em apresentar as melhores e as mais diversas formas de fazer teatro usando o riso, o humor e o cómico como denominador comum. Vinte e sete companhias nacionais e estrangeiras vão contar em palco as suas histórias e partilhá-las com os cerca de 10.000 espectadores que nos brindam anualmente com a sua calorosa presença..
Este Festival é, em cada Outono, um momento de festa, de descoberta e diálogo, onde actores e espectadores se encontram em hora certa, partilhando histórias extraordinárias protagonizadas por gente comum que, mercê da arte que é o Teatro, se transformam em verdadeiros deuses, senhores do seu próprio destino, construindo ilusões para lutar contra a dura realidade, na descoberta de outras ficções para o real indesejado.
Somos dos que pensam, como Freud, que o humor (e o Teatro) não se resigna, desafia.
Por isso, a programação desta edição de 2006, mais uma vez, escolhe autores, espectáculos e companhias que usam o riso como arma inteligente de destruição massiva contra o conformismo e a hipocrisia.
Aí estão em palco os textos dos nossos maiores, Gil Vicente e Bocage e outros poetas, a par dos contemporâneos, do francês Jean-Luc Lagarce aos espanhóis Sanchis Sinisterra e Fernando Tries de Bes ou dos nossos Hélder Costa, Miguel Castro Caldas, Luísa Ducla Soares, entre outros.
Dos convocados para os dizerem em palco, 16 vieram do nosso país, do Porto e da capital, de Vila do Conde, Covilhã e Odemira, e, 11, doutras partes deste vasto e cada vez mais aproximado mundo. Presentes os nossos antípodas da Austrália, passando pela Holanda, Suiça, Itália, Dinamarca, Inglaterra, sem esquecer a presença habitual do teatro e do português do Brasil e de nuestros hermanos que nos chegam do País Basco e da Andaluzia, e, presença maior, da Galiza com a sua língua, irmã da nossa.
O FITCM na sua diversificada programação incluí espectáculos de teatro musical, sombras e marionetas, novo circo e clown, mimo e pantomima, commedia del´Arte e commedy, musica teatral, café-teatro, stand-up commedy e poesia, animação e teatro de rua.
Talvez, como disse Mark Twain, o segredo do riso não seja a alegria mas a tristeza. O humor mais subtil, inteligente, corrosivo e desafiador, teve origem nas minorias oprimidas e sempre foi um antídoto, uma forma de luta contra os regimes totalitários e uma bofetada contra a "apagada e vil tristeza".
Não vivemos um momento de alegria. O nosso pequeno mundo vai-se esboroando e todos os dias perdemos coisas que tanto nos custou a conquistar.
Façamos pois deste Festival um tempo de preparação para os novos e gloriosos dias que hão-de vir.
O nosso riso contra o pouco siso.
José Leitão
(Teatro Art´ Imagem)
Director Artístico do FITCM