Eis a 29ª Edição do Festival Internacional do Teatro Cómico da Maia que tem a participação de 23 Companhias, nacionais e estrangeiras, e que acontece num ano particularmente importante, o ano em que se comemora os 50 anos do Vinte Cinco de Abril.
A esse propósito é importante refletir que esta iniciativa da Câmara Municipal da Maia, com produção do Teatro Art’Imagem, tendo em conta a sua História, os seus conteúdos e os seus objetivos, só acontece, só é uma realidade que tanto apreço tem dos seus públicos, porque vivemos em Liberdade. Sem o 25 de Abril de 1974, o FITCM nunca existiria. Nenhuma ditadura permite que a crítica social, o humor inteligente e criatividade sem censura tenha um espaço próprio e público para que, com graça, se manifeste livremente.
Por isso, para além da evidente qualidade da Programação, esta 29ª Edição do Festival Internacional do Teatro Cómico da Maia merece, se possível, ainda um maior apoio e carinho do público.
O Vereador do Pelouro da Cultura, Mário Nuno Neves
Exaltar o Riso ou condená-lo...
Numa iniciativa da Câmara Municipal da Maia com produção, programação e direcção artística d Teatro Art´Imagem, a 29ª edição do Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia (FITCMaia) de 2024, realiza-se de 4 a 13 de Outubro, como sempre no Fórum da Maia, com a participação de 23 companhias de teatro profissional que durante 10 dias consecutivos apresentarão 28 espectáculos diferentes, para todas as idades e diversificados públicos, trazendo à Maia cerca de 160 artistas, técnicos e outros profissionais do teatro, circo, música e todas as artes em geral representando a organização e produção do Festival bem como as nacionalidades, companhias e peças programadas.
De PORTUGAL estarão presentes 12 companhias e suas peças: Teatro do Bolhão ( A Vida...), Companhia do Chapitô (Júlio César), Trigo Limpo Teatro ACERT (Aloha!), Peripécia Teatro ( A Peça - em 4 Turnos ), O Nariz (Agripina, a menor), Marionetas Rui Sousa (Inês é Morta e Marionetas de Circo), Ana Madureira e Vahan Kerovpyan (Espanto, uma co-produção com a FRANÇA), Contilheiras (Pata, Peta, Pita, Pota. Maria!), Sistopeia (Bom dia, Riso e Os Irmãos Fumiére), Companhia Argilaverde ( O Herói Intrépido e O Ilusionista, duas co-produções com Espanha), Teatro do Assombrado (A Burguesa e O Camponês) e o JAT - Janela Aberta Teatro (Cocktail da Evolução).
De diversas Regiões ESPANHA (Catalunha, País Basco, Galiza, Madrid e Castela e Leão) apresentar-se-ão 9 companhias: Yllana (War Baby), Marie de Jongh (Mr. Bo), Spasmo Teatro ( Galerias Tonteries), Jesús Puebla (Backstage e Enclowntamento), Companya La Tal (The Incridible Box), Ibuprofeno Teatro (Deadpan Karaoke), Cia Orain Bi (Mute), Anna Confetti (A La Fresca) e Luciérnagas Teatro (4000.001 Milhões de Estrelas).
da ARGENTINA: estará Loco Brusca (Mr.X, uma co-produção com Espanha) e vindo do Rio de Janeiro, BRASIL chegarão Júlio Adrião Produções (A Descoberta das Américas).
As peças a que irão assistir, reflectem em palco as dores e as alegrias do Mundo em que vivemos, num momento que guerras atrozes afligem a humanidade e mais guerras se seguirão, basta ver a loucura da corrida aos armamentos que os governos promovem, em nome da paz e da proteção e defesa das suas nações e povos, contra outros países e populações que, afinal, todas iguais em sua humanidade. Falarão do amor e desamor, da vida do dia a dia e dos senhos, da alegria que querem para bem vivermos, sempre com humor e em tons diferentes.
Este ano uma boa parte dos espectáculos não têm palavras ( talvez as mesmas tenham voado com o vento ou porque desnecessárias, muitas vezes). Os restantes são servidas por grandes mestres da literatura mundial e nesta edição, até o vate Shakespeare virá à baila, lembraremos Brecht e o nosso Stau Monteiro e a reflexão que fazem sobre a necessidade que o teatro deve ter com as pessoas e o tempo que passa, do italiano Dario Fo, um Nobel da Literatura, passando pelo humor negro e corrosivo de Nelson Rodrigues, um dos maiores dramaturgos brasileiros, até à verbe de historiadores do império romano como Suetónio, que, emprestaram os seus textos aos actores para estes os transmitirem aos espectadores.
Não poderíamos também deixar de saudar os 50 anos da gloriosa Revolução de Abril programando uma peça que nos recorda os dias negros de Salazar e de outros ditadores e a luta da classe operária pelo acesso à cultura e destacar a importância do 25 de Abril na forma como o teatro português e seus profissionais aproveitaram bem a liberdade e a alegria que esta nos proporcionou, partilhando com o público espectáculos que falam das nossas vidas e sonhos com humor e lágrimas, na esperança dum futuro melhor.
Termino, respigando e comentando o livro "História do Riso e do Escárnio", do historiador Georges Minois, para dizer que desde inicio, os promotores deste Festival sempre tiveram em conta a importância do Teatro Popular, à maneira de Jean Vilar, o tema que escolheram para conquistar mais espectadores através do Teatro Cómico. Os anos mostram que o público que aos milhares em cada ano enchem os espaços onde as peças são levadas a cena, voltando sempre no ano seguinte, provando que o riso sério é inteligente e subversivo e uma das boas maneiras para a humanidade de se libertar da lei da morte e do luto a que está sujeita. Leia-se o que nos diz o autor acima citado. Exaltar o riso ou condená-lo, revela o estado e a realidade de uma civilização. Desvenda a mentalidade de uma época e sugere uma visão do mundo, podendo contribuir para esclarecer, em parte a própria evolução da humanidade.
O riso é uma das respostas fundamentais do ser humano perante o dilema da sua própria existência e é importante saber e conhecer como ele tem sido usado ao longo da nossa história (nomeadamente no teatro e outras artes em geral) contra a tirania e opressão, em luta pela justiça e contra as desigualdades sociais para alcançarmos uma cidadania participativa e inclusiva que avive em nós o que de mais caro e sublime temos em humanidade para encontrarmos, em permanente diálogo e por muitos caminhos, um sentido fraterno para a vida que, em dado momento, nos foi dado o privilégio de viver.
Talvez gargalhar para quem nos quer calar, foi o mote escolhido deste ano, acrescento-lhe Gil Vicente, "Ridendo castigat mores".
Viva o Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia, um ano antes da sua 30ª edição.
Bom Teatro e Vida boa.
José Leitão Director Artístico do Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia e do Teatro Art´Imagem