Alvíssaras! Eis aqui de novo o Fazer A Festa, esta tão nossa quanto vossa celebração teatral, sonhada há mais de quarenta anos, que já foi em tempos plantada num jardim de cristal, que também era um palácio. Tempos que já lá vão e que certamente estarão na memória de muitos que nos acompanham de forma ininterrupta desde o primeiro momento.
Como não nos atrapalhamos nos jardins, nem no senso de comunidade que continua a alimentar o sonho e a celebração, a festa há muito que foi transplantada para a Quinta da Caverneira, actual residência do Teatro Art’Imagem, em parceria com a Câmara Municipal da Maia.
Se é certo que já não habitamos um palácio, também o é que, na contramão, ganhámos uma quinta e um castelo. O que só por si bastaria para ractificar a lei universal que nos recorda que nada se perde, mas que sim, tudo se transforma.
“Nada é bom ou mau, senão porque o pensamos”, diz-nos Hamlet, o homem da dúvida sistemática. E porque o pensamos, não temos dúvidas em fazer um balanço positivo dessa transformação, quer no que diz respeito à proximidade com o público que nos acompanha, quer, decorrente desse pressuposto, quanto à relação familiar que enforma todo o evento.
O festival vem demonstrando ao longo destas décadas um forte domínio de carácter, impondo-se com brio a todas as adversidades, transcendendo inclusive os esforços dos seus promotores, como corpo que rejeita a ideia de facto consumado. Transfigura-se, ressurge, adapta-se e segue, fazendo sempre por merecer o seu apelido de festa. Há festa, portanto, e festa haverá.
Se, por um lado, existe a percepção geral de que os desafios aumentam, de haver um recrudescimento substancial de acções opostas aos valores de convivialidade salutar, que as certezas desvanecem, é, por outro lado, a nossa firme convicção de ser precisamente em tais ocasiões que o lugar da arte ganha maior relevância como reduto privilegiado ao exercício da liberdade e expressão genuína das vontades intrínsecas e colectivas.
Assim é o Fazer A Festa que, sendo embora um festival temático, não deixa de merecer, de igual modo, o reconhecimento pelo seu ecletismo, agregador de múltiplas sensibilidades, que se convergem e interactuam de forma espontânea. O seu carácter universal tem-lhe permitido acolher uma grande diversidade de culturas, cada uma com as suas especificidades e riquezas particulares; todas, no entanto, perfeitamente identificáveis a partir do quadro classificativo que denomina as espécies planetárias.
Todas elas humanas na forma e na substância. O Fazer A Festa é para todos, nele ninguém vem de fora da geografia que delimita o mundo, ninguém é estrangeiro à chegada, e a partida é sempre uma promessa de reencontro.
Esta edição, para além de companhias portuguesas, contará com parceiros vindos da Galiza, de Cáceres e do Uruguai; uma residência artística e respectiva apresentação do projecto; uma exposição; a leitura do texto vencedor da terceira edição do Prémio de Dramaturgia Para a Infância e Juventude; o lançamento de um livro; e um debate aberto à partição pública. O programa geral, que pode ser consultado a partir do QR Code disponível no folheto ou directamente no sítio teatroartimagem.org, detalha com mais informações todas as actividades propostas para esta quadragésima quarta edição do festival.
A abertura realizar-se-á no Fórum da Maia, e a restante programação decorrerá no auditório e nos jardins da Quinta da Caverneira em Águas Santas, de 06 a 10 de junho.
Um grande bem-haja a vós, que fazem o festival ser a festa que nunca deixou de ser.
Todos são necessários. Todos são bem-vindos.
Desfrutem.
Obrigado.