A vigésima sétima edição do Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia (7 a 16 de outubro de 2022) trará ao seu público espetáculos de 22 companhias (5 portuguesas e 17 estrangeiras) de vários géneros cénicos, todos eles focados no potencial do "Humor" enquanto instrumento de análise e crítica social.
Vivemos um período de enorme incerteza política, social, económica e sanitária que impõe um especial sentido crítico aos cidadãos do planeta, sentido esse que o humor deve não só manifestar como estimular.
O FITCM, desde a sua primeira edição, tem procurado cumprir um objetivo, para nós fundamental: que o longo momento lúdico que o mesmo proporciona seja, em simultâneo, um momento de reflexão, de consciencialização e de intervenção.
Estou convencido que esta 27ª edição o cumprirá com o mesmo sucesso.
O Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Maia, Mário Nuno Neves
O Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia (FITCMAIA) vai realizar a sua 27ª edição e decorre este ano de 7 a 16 de Outubro no centro da cidade da Maia, no Fórum e sua área exterior circundante. Uma organização da Câmara Municipal da Maia com programação, produção e direcção artística do Teatro Art´Imagem, como é habitual desde a sua primeira edição.
Durante estes 10 dias de Festival, serão apresentados 28 espectáculos diferentes, 10 no Grande Auditório do Fórum da Maia às 21h30, excepto no dia da abertura às 22h30; 3 no café-teatro do fórum às 23h00; 4 peças no exterior para todos os públicos às 16h00 aos sábados e domingos; 10 peças curtas no exterior para todos os públicos às 21h00 e 1 espectáculo de abertura às 21h30 também ao ar livre, estes de entrada gratuita.
Nesta edição estarão presentes 22 companhias, 5 portuguesas e 17 estrangeiras.
De Portugal: Safaneta clown (A Excêntrica; Safaneta e A Pessoa); Dani (Nougat); SejaDonoDoSeuNariz (Heart of Clown e Opereta a Duas Mãos); Teatro das Beiras (Corpsing) Eva Ribeiro Clown (A Cerimónia e Splash).
De Espanha, 11 companhias, sendo, uma da Catalunha: Cia Caprina (Solo Eva); duas de Castela e Leão: Jesús Puebla Mimo (O Menor Espectáculo do Mondo e Pinot) e Spasmo Teatro (Viaje al Centro del Cuerpo Humano); três da Galiza: Sarabela Teatro (Crónicas do Paraíso ); Matrioska Teatro (Comando Comadres) e A Panadaría (As que Limpan); três de Madrid: Fuera de Lugar (Go out Brothers); Yllana (Passport) e Centro Dramático Nacional (coprodução com A Panadaría); uma do País Basco: Ameztu Antzerkia (Organik) e uma do País Valenciano: Cia Maria Andrés (Fràgil). Uma de França, Cia Rampante (Rococó), uma da Polónia Cia Pina Polar (A Vingança da Senhora Morcego), uma do Brasil, Cia Pé de Vento (Desajustada), uma da Argentina, Cia Jimena Cavalletti (Mecha Show You), uma do Chile, Pepe´Show (Surprise e os Tatistas "Nunca é Tarde") e finalmente uma da Colômbia Tchyminigagua (Chimizayaguas: aves ancestrales).
12 dos espectáculos dos espectáculos internacionais são estreias em Portugal (Chimizayaguas: Aves Ancestrales; Desajustada; Go out Brothers; Crónicas do Paraíso; Passport; O Menor Espectáculo do Mondo; Comando Comadres; Organik; Pinot, As Que Limpan; Redes e Viaje al Centro del Cuerpo Humano).
Logo no primeiro dia, sexta-feira, 7 de Outubro, pelas 18h00, teremos, nas imediações do Fórum, junto à estação do metro, uma estranha personagem , que se diz fora de si e do seu contexto, a portuguesa "Safaneta Clown" (A Excêntrica) deambulando entre as pessoas que passam, numa espécie de prólogo do festival que às 21h30 frente a Câmara Municipal apresentará um insólito e garrido desfile teatral da companhia colombiana "Tchyminiguagua" (Chimizaya : Aves Ancestrales) com estranhos performers musicais que actuam em andas com patins e que, com os seus engraçados jogos e técnicas de agilidade e acrobacias, se propõem salvar os terráqueos do tédio em que vivem.
Termina o primeiro dia às 22h30 no Grande Auditório (GA) com os brasileiros da "Cia. Pé de Vento" (Desajustada) num mordaz solilóquio em que a actriz Vanderleia Will se transforma numa patética palhaça ridicularizando o seu (nosso) condicionado quotidiano, entre gags, truques, magias e ilusões.
Pelas 16h00 de sábado dia 8, o palhaço português "Dáni"(Nougat) transportará a audiência numa viagem intergaláctica a procura de elefantes cor-de-rosa que afinal eram galinhas e jogavam as cartas, depois do trabalho na peixaria.
Às 21h00 será a vez de voltarem a ver "Safaneta", agora transfigurada numa engraçada clown e muito imprevisível.
Pelas 21h30 em palco estará a polaca "Cia. Pina Polar" (A Vingança da Senhora Morcego) numa incursão surrealista ao universo de Bat Lady, num registo clownesco com referências a Comédia dell'Arte e aos problemas das mudanças climáticas, quando um morcego descobre que o último mosquito, acabou de morrer e que ele vai morrer a fome. O que fazer, transformar-se em vampiro para sobreviver?
Por fim às 23h00 no café-teatro veremos, vindo da Catalunha "Caprina" (Solo Eva) uma outra palhaça que se afirma contemporânea, com todas as costelas, sem Adão, o pecado original e sem maçã, mas dotada de tudo o que é preciso para redescobrir o Paraíso.
Domingo, dia 9 às 16h00 actuarão os madrilenos "Fuera de Lugar" (Go to Brothers), numa comédia, circo, clown e teatro gestual, onde dois irmãos vão contando em "gramelot", uma língua universal a partir do inglês, as histórias da família cuja pontualidade era a sua principal característica.
Pelas 21h00 é a vez de "SejaDonodoSeuNariz" (Heart of a Clown), onde a intérprete Catarina Mota, através de mímica, gesto e dança nos interpela, entre o poético e ironia, sobre a gentrificação e a escassez de condições de habitação decente para tantos excluídos.
A última sessão da noite, às 21h30 "Sarabela Teatro" (Crónicas do Paraíso) deste grupo galego mostra-nos as peripécias de um funeral onde aristocratas doutros tempos velam um morto e como nessa noite se confunde vida e morte, comédia e drama, tudo ao ritmo de "blues" misturado com religião, bandidos, armas, sexo, dinheiro e sangue e onde aqui o crime compensa e ninguém morre...
Segunda dia 10, às 21h00, teremos a última presença de "Safaneta" (A Pessoa) onde a clown, num "stand up" intimista nos ensina algumas terapias e formas de accionar os nossos músculos faciais para mais facilmente podermos sorrir, rir e viver melhor.
Por fim, pelas 21h30 no GA subirá ao palco o grupo argentino, "Cia Jimena Cavalletti" (Mecha Show You), numa achega caricata a um programa de entretenimento de TV, onde uma mulher anti-depressiva, diva de outras épocas, extrema e terna, se dispõe a entregar a vida aos seus fiéis seguidores e ao mundo em prole da alegria universal.
Terça dia 11 pelas 21h00 volta à cena "SejaDonodoSeuNariz" (Opereta a duas Mãos), onde a "Maestrini Margaret" dirigirá o público numa autêntica opereta poética e divertida.
Terminamos às 21h30 com o "Teatro das Beiras" (Corpsing), num espectáculo meta-teatral, um conjunto de quatro peças, escritas pelo dramaturgo Peter Barnes, numa única representação absurdamente trágica e tragicamente absurda, num contraste dos opostos que afinal se combinam para nos fazer rir e pensar.
Quarta 12 às 21h00 é a vez dos chilenos "Pepe´Show" (Surprise) que nos surpreenderão com uma caixa misteriosa prestes a explodir, libertando duas personagens peculiares que nos farão entrar em situações insólitas e picarescas e nos levarão a passar um bom e hilariante momento.
Às 21h30 é o momento de entrar em cena os madrilenos "Yllana" (Passport) com a sua costumada loucura humorística a que o público responde com sonoras gargalhadas, mostrando-nos as peripécias em que se tornam as viagens desta e de outras companhias pelo mundo fora, uma autêntica odisseia em aeroportos, estações de comboios, carrinhas e camionetas, numa comédia vertiginosa e burlesca, sem palavras, dirigida a todos os públicos.
Dia 13, quinta feira teremos às 21h00 os castelhanos "Jesús Puebla e Chari Gonzalez" (O Menor Espectáculo do Mondo) com 20 minutos envoltos em mágicas piruetas circenses com o Professor Notorius e sua assistente Madeleine, vindos de um salão parisiense do século XIX para nos assombrar com tão meticulosas e inesperadas acrobacias.
Pelas 21h30 apresentamos as artistas galegas da "Matrioshka" (Comando Comadres) que se preparam para a luta contra a prepotência e múltiplas manifestações patriarcais e que usarão todas as suas capacidades teatrais e artísticas através da utilização de várias linguagens e disciplinas teatrais, a comédia, a farsa, o burlesco, o riso de desprezo, a mofa, o escárnio ou a caricatura picaresca para conseguirem chegar a uma sociedade liberta, com igualdade de direitos e deveres sociais entre ambos os sexos e de um mundo justo e equilibrado.
Dia 14, sexta às 21h00 iniciaremos novamente com os chilenos "Pepe´Show" (Os Tatitas "Nunca é Tarde) agora nos mostrarão um casal de pensionistas que no Lar têm aulas de circo e resolvem formar uma parelha para realizarem espectáculos como profissionais.
Pelas 21h30 começarão os espanhóis "Spasmo Teatro" (Viaje Al Centro del Cuerpo Humano) que farão uma paródia da obra de Júlio Verne, deixando a Terra e situando-a no Corpo Humano, uma diversão cénica é trepidante, cheia de gags humorísticos, truques, magia e efeitos especiais e inesperados onde os quatro actores utilizam todas as suas capacidades histriónicas para agradar aos espectadores que terão boas oportunidades para sorrir e gargalhar.
Às 23h00 será a vez de "Eva Ribeiro Clown" (A Cerimónia) que nos levará aos rituais da morte, da perda e das despedidas, uma homenagem às carpideiras, figuras ancestrais que nos ajudam, com os seus choros entre o patético e o trágico-cómico, no adeus aos nossos mortos.
Sábado dia 15, pelas 16h00 o grupo do País Vasco "Ameztu Antzerkia" (Organik) conta-nos a história do Sr. Natural, um bio-aventureiro de hortas e jardins, ama frutas e verduras, dá-lhes vida e voz, são como seres vivos que ama. Porém o seu lado obscuro, a sua sombra o Yoyo, surge das profundezas do seu estômago, guloso e cruel e quer a todo o custo comê-los. Como resolver este dilema, eis a questão.
Às 21h00 regressa "Jesús Puebla Mimo" (Pinot), agora como empregado de limpeza de uma sala de teatro, sonhando ser a maior estrela. Pedirá a ajuda dos espectadores para o conseguir, porque só por ele tudo sai mal.
Pelas 21h30 no GA em cena estará a companhia galega "A Panadaría" (As Que Limpan) que nos levarão até um grande hotel de tudo incluído, que pode ser numa praia das Caraíbas ou do Algarve. As actrizes, serão as camareiras que limpam centenas de quartos que os turistas utilizam, num trabalho rotineiro e esgotante, precário e mal pago. Elas, estão fartas desta situação. Uma comédia mordaz e corrosiva, às vezes caricatural outras de fina ironia, uma premiada peça.
Termina a jornada as 23h00 com a valenciana "Cia Maria Andrés" (Fràgil), num show clownesco sobre a fragilidade da vida, do amor e do tempo que passa, entre a melancolia poética e não sendo.
Domingo 16, último dia do Festival, inicia-se às 16h00 com os franceses "Cia Rampante" (Rococó). Um casal vai-nos revelando várias facetas do seu dia a dia e de outras personagens numa peça humorística de vaudeville, utilizando várias técnicas teatrais, circo e manipulação de objectos.
Pelas 21h00 volta "Eva Ribeiro Clown" (Splash), agora numa comédia visual em que a actriz se banha numa banheira e onde não faltam surpresas e loucuras várias, por banhos nunca antes navegados.
Às 21h30 tem lugar a derradeira peça do Festival com os madrilenos "Emovere Teatro" (Redes). Desembarcado dum ovni aparece um homem decidido a mostrar-nos o caminho para conhecermos a sua verdade. De uma forte componente física, sonora, musical e efeitos visuais, perguntamo-nos no final se afinal a personagem fala dele ou de nós próprios?
Foram estes espectáculos e estas companhias as escolhidas para se apresentarem neste singular e importante Festival que tem pretendido dar a conhecer, a um público alargado de espectadores, espectáculos diversos, que se fazem no presente em Portugal e no Mundo, que utilizam as diversas formas de humor de que se serve o Teatro Cómico para contar em palco as histórias desta nossa casa comum em que mora a humanidade, para nos fazer a rir e pensar, quando o que nos apetecia mesmo era chorar e desistir.
E, de que riem as pessoas? - perguntava um mestre das letras universais -, respondo eu, aproveitando as suas palavras e acrescentando outras: não apenas da alegria, da graça ou ironia, nós também rimos para exprimir alívio, exasperação, estoicismo, histeria, embaraço, medo, repulsa, revolta, apaziguamento, crueldade, maldade, fuga à realidade, desistência, cansaço, evasão e desconhecimento. E, por vezes nem rimos das melhores piadas, porque ao riso se permite completa liberdade, amplitude e complexidade.
O Festival, a arte e o Teatro não se fazem para esquecer o estado do mundo em que hoje vivemos, tudo isso que nos preocupa estará nos palcos da Maia, porque nos encontramos para estarmos juntos e queremos que os cómicos nos tratem com inteligência e com as suas estórias exemplares nos permitam reflectir sobre o que é isso de existirmos como humanidade em demanda um sentido de vida comum.
Em cena estaremos todos nós,
Os Bons, os Maus e os Vilões.
Bom Festival, Bom Teatro e Boa Vida.
José Leitão, Director Artístico do Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia